19.1.10

Crónicas da cenoura em crise

A evolução das relações amorosas anda a par da revolução electrónica.
Antigamente as pessoas tinham um único canal de televisão, esta era enorme e pesada e permanecia sempre no mesmo sítio, o rádio riscava os discos enquanto gritava os slows que dançavamos com uma única pessoa. As coisas eram vividas no momento, com a pessoa do momento, sem ligações instantâneas a prazeres alheios.
As traições eram cometidas com amor.
Escreviamos cartas deliberadamente traiçoeiras, caminhavamos até ao marco do correio, sem música nos ouvidos, sem distracções visuais, nas mãos tinhamos apenas a carta e a decisão do nosso acto. Ter uma amante seria nesses tempos uma arte de amar.
Hoje o conceito é ter um telemovel em cada mão, os ouvidos cheios de música, a internet anda atrás de nós, criamos uma conta no facebook, no hi5, no orkut, no gaydar, no hotmail, no gmail, no sapo.pt. É dificil duas pessoas que se amam acompanhar todos estes ciclos, em todo o lado as pessoas fazem marketing para se vender 'como a melhor pessoa', é dificil combater os fantasmas dos outros e os nossos, são muitos fios condutores. É dificil, sabes?
Já ninguém se satisfaz com uma cara metade, este conceito piroso já não existe. Nós para sermos felizes e completos, temos que ter a pessoa que nos sobe o ego no chat y, a pessoa que nos dá beijos no bar w, a pessoa z que usamos para desabafar e para manter estável a nossa caminhada e ainda o sujeito x que nos ocupa os tempos livres, entre mensagens e cafés.
Um típico relacionamento, será:
Enquanto degustas um chã de camomila com a cabra amarela, envias sms's à burra verde prometendo que a amas, que só tens olhos para ela e que não te importas com a vaca vermelha, nunca esquecendo porém de ao mesmo tempo via facebook perguntar à vaca vermelha se namora ou não, porque mais uns beijos no bar dos bois azuis seria agradável.
O jogo está lançado e nunca será assumido, nem pelas mentes mais sábias e orgulhosas, porque dá sempre muito jeito manter o bolso repleto de animais aptos a colocar em linha de jogo.
Vai daí,
sou uma rapariga às antigas.

3 comentários:

Anónimo disse...

Nem a própria burra verde é inocente nesses caminhos. Somos todos humanos. E as histórias de amor continuam a existir.

porco rosa disse...

que grande curral

avestruz laranja disse...

as portas estão sempre abertas para mais um porco ou porca!