17.1.09

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olho as minhas mãos. nas minhas mãos tudo passa.
duas planícies desertas. ruínas. o que ficou para trás.
uma menina que caminhou sozinha nas minhas mãos e
que perdeu a sombra. um inverno distante que esqueceu
a solidão entre os meus dedos. nas minhas mãos tudo passa
e tudo morre. nas minhas mãos tudo sufoca até ser nada.
jardins que as minhas mãos arrasam. mundos inteiros que
as minhas mãos devastam. nas minhas mãos tudo passa.
as minhas mãos são uma noite insípida e vazia. são uma
noite cheia de gente como cadáveres ou fantasmas.
as minhas mãos foram mesa e não eram mesa. foram cama
e não eram cama. nas minhas mãos tudo passa.
um homem de boas intenções viveu nas minhas mãos.
viveu e caiu cansado na palma das minhas mãos. vejo
esse homem e vejo-me através dos seus olhos. agoniza.
olha-me com pena. morrerá quando as minhas mãos
morrerem.


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